quarta-feira, fevereiro 14

C'est l'amour

"Sinto o amor no ar... Eu também estou a sentir..." cantam Marco Horácio e Eduardo Madeira todos os dias pela fresquinha. Mas hoje, não há indivíduo que possa dizer que não se sente um tanto ou quanto afeiçoado à expressão.
Nem que seja pelas cartas e belhetinhos encharcados de perfume, as caixas de chocolate em formas de coração, os ursinhos de peluche, os porta-chaves ou os pendentes que se ligam por duas partes formando um coração, as rosas vermelhas que dão sempre aquele toque. Os típicos presentes, os chamados clichés.
Mas há ainda neste dia hotéis com as suites pormenorizadamente preparadas para a ocasião (e uma noite de grande rambóia), os restaurantes especializados em menus bastante exóticos, ou ainda aquelas prendas que nem todos podem receber, nem todos os dias, nem em qualquer ocasião.
Neste dia, vê-se também algo curioso e claro, de grande valor cientifico: Manuel de Luís Goucha armando-se em velha casamenteira ofertando umas pobres criaturas de Deus a quem as queira como suas caras-metade. É mesmo o estilo "Venha freguês, venha! Olha o camionista e a mulher do peixe com um desconto de 30%, é de aproveitar! Escolha á vontade. É pró menino e prá menina!"

Agora, deixando estes devaneios de lado, meus senhores e minhas senhoras, façam o favor de ser felizes, ofereçam algo de realmente valor à vossa cara-metade, algo sem preço, e se não a tiverem, os amigos são sempre algo, por vezes de mais valor que, e mesmo, a cara-metade.

Diário de uma Secundarista

Já cá faltava!

Com 37 pontos em 40, no teste de Língua Portuguesa, no qual era pedido uma recordação marcante da infância, redigi, vou passar a citar. Logo, atentem:


"Sempre fui uma medricas. No escuro via coisas que mais ninguém via, ouvia sons demasiado misteriosos para serem banais ou sem maldade. Mas este episódio que vou contar deixou-me mesmo apavorada, e desengane-se quem pensar que daqui por diante está uma grande história cheia de suspense e terror. Simplesmente assustei-me com a informação. Graças a Deus, na altura não via nem compreendia as notícias medonhas que todos os dias nos 'entram' em nossa casa.
Era eu bem pequena, não faço ideia da minha idade na altura mas para uma ideia mais clara, estava ainda, e estive, no infantário. Eu e os outros miúdos víamos um filme que demonstrava a importância do cuidadoda higiene oral. Evidenciava também as consequências do excesso de doces e da escassez da pasta e da escova de dentes. Eu estava apavorada, chorava, gemia, esperneava. Todas as outras pessoas à minha volta olhavam para mim assustadas e suspeitando de um caso psicopático. Mas eu continuava: bracejo para cá, pontapé para lá. E se aquilo me acontecesse? Não é que eu tivesse culpas no cartório, mas já conhecia tantos casos de dor de dentes e dentes podres de outras pessoas, que o medo instalou-se dentro de mim. Ainda hoje, e mesmo esquecida como sou, algumas imagens e sons do filme permanecem na minha memória. Era um filme de imagem real e mostrava um rapaz, que, de tantos doces comer, tinha apanhado uma valente dor de dentes. Enquanto a boca do rapaz fazia o fundo do televisor situado bastante acima dos nossos olhos, a imagem de repente, mudava. Dois homenzinhos com roupas e chapéus estranhos, que habitavam na boca do pobre rapaz, com um machado, perfuravam-lhe os dentes. E o miúdo, coitado, gemia. Pudera!
Ora eu, na minha inocência primaveril, abominava que dois terríveis homenzinhos se instalassem nas minhas gengivas, nos meus brancos dentes. Era o pavor. Tudo para que as escovas e as pastas de dentes, passasem a fazer parte do nosso dia-a-dia. Medo, muito medo."

O problema maior deles todos, é que tudo isto- e acreditem- é verdade.